Esta matéria é uma tradução autorizada de um artigo originalmente publicado no Italia Che Cambia, escrita por Benedetta Torsello, e foi reproduzida aqui com a devida permissão. Todos os direitos sobre o conteúdo original pertencem ao jornal. Acesse aqui a versão original.
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Na Itália, as Sociedades de Benefício apresentam desempenho econômico e níveis de inovação recordes. E não é só isso: para elas, a geração de um impacto ambiental e social positivo é tão importante quanto a redistribuição dos lucros.
Como definir uma empresa que não apenas gera lucros, mas também causa um impacto positivo não apenas para os acionistas, mas também para o meio ambiente e toda a comunidade? Em 2011, um artigo da Harvard Business Review, anunciando uma mudança histórica no sistema capitalista tradicional, definiu-as como Benefit Corporations, hoje mais conhecidas na Itália como Società Benefit.
Também conhecidas como empresas de “duplo propósito”, as Benefit Corporations são empresas que, além do propósito de compartilhar lucros, buscam um ou mais propósitos de benefício comum e operam de forma responsável, sustentável e transparente em relação às pessoas, ao meio ambiente e às partes interessadas, comprometendo-se a avaliar seu impacto desde seus estatutos.
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UM RELATÓRIO DE PESQUISA SOBRE AS SOCIEDADES DE BENEFÍCIO ITALIANAS
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Atualmente, existem 4353 Sociedades de Benefício na Itália, de acordo com o Observatório de Sociedades de Benefício da Câmara de Comércio de Brindisi e Taranto – Infocamere (dados de setembro de 2024). O número está aumentando exponencialmente, como revela a Pesquisa Nacional sobre Sociedades de Benefício 2024, um estudo que, pela primeira vez, analisa a evolução desse fenômeno – antes de tudo cultural e social – também do ponto de vista econômico e financeiro.
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Paolo Di Cesare, cofundador da NATIVA
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A pesquisa, realizada por uma equipe de especialistas, envolveu a Nativa, o Departamento de Pesquisa da Intesa Sanpaolo, a InfoCamere, o Departamento de Ciências Econômicas e Empresariais da Universidade de Pádua, a Câmara de Comércio de Brindisi-Taranto e a Assobenefit. No estudo, o panorama italiano das sociedades de benefício emerge por meio de uma comparação do desempenho das sociedades de benefício com o de um conjunto de sociedades tradicionais pertencentes aos mesmos setores e de classes de tamanho comparáveis.
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NATIVA, UM PRECEDENTE ÚNICO NA EUROPA
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Paolo Di Cesare, cofundador da Nativa, e Silvia Zanazzi, cientista-chefe de regeneração, nos falam sobre a pesquisa sobre as Sociedades de Benefício italianas. No modelo de negócios convencional, há décadas e décadas de estudos, tentativas e erros”, começa Di Cesare, ”todos voltados para a maximização do lucro. Para as Sociedades de Benefício, por outro lado, não há um caminho bem trilhado e, por isso, o estudo surge da necessidade de refletir sobre como esse tipo de empresa está se desenvolvendo na Itália atualmente.
O nascimento da Nativa, como dissemos há algum tempo em um artigo, está à frente de seu tempo e, de certa forma, escreve a história dessa nova maneira de fazer negócios, não apenas em nosso país, mas em toda a Europa. Primeira Sociedade de Benefício no velho continente, há mais de dez anos a Nativa vem apoiando algumas das mais importantes empresas italianas e europeias em uma evolução radical de seus negócios, acelerando sua transição para modelos que colocam a sustentabilidade e a regeneração no centro.
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Quando Eric Ezechieli e Paolo Di Cesare fundaram a Nativa em 2012, eles incluíram nos estatutos da empresa, inspirados no modelo legislativo dos EUA – Maryland, em particular, foi o primeiro estado a regulamentá-los -, o objetivo de gerar felicidade para todas as pessoas que faziam parte dela, além de dividir os lucros entre os sócios. Essa redação foi inicialmente rejeitada porque, de acordo com o Código Civil italiano (art. 2247), o objetivo de uma empresa é apenas dividir seus lucros. Somente após várias tentativas, o estatuto foi aprovado e a Nativa nasceu.
“Graças aos nossos esforços e à colaboração com uma equipe liderada pelo senador italiano Mauro Del Barba, a Itália foi o primeiro estado soberano do mundo a introduzir a lei sobre Benefit Corporations com a Lei de Estabilidade de 2016”, reitera o cofundador da Nativa. As Benefit Corporations foram posteriormente introduzidas também na Colômbia (2018), Porto Rico (2018), Equador (2019), Canadá – Colúmbia Britânica (2019), França (2019, na forma de Société à Mission), Peru (2020), Ruanda (2021), Espanha (2022), Panamá (2022) e San Marino (2023).
Atualmente, não é mais possível conceber um modelo de negócios que não leve em conta os impactos ambientais e sociais
Para Paolo Di Cesare, a Nativa é “uma criatura um tanto especial que aplica um conceito de empresa que tem muitas inspirações no passado – em primeiro lugar, o modelo de negócios de Adriano Olivetti – e que também terá muitas no futuro, mas que é essencialmente novo e que tentamos desenvolver dia após dia”. A Nativa lida com a estratégia de sustentabilidade, ou seja, apóia empresas que desejam mudar seus negócios, buscando um modelo de negócios não extrativista, mas regenerativo.
“O que sempre nos perguntamos é se uma empresa é capaz de criar um valor social, econômico e ambiental sistematicamente maior do que o valor econômico, social e ambiental que ela precisa para existir”, enfatiza Di Cesare. “Hoje, não é mais concebível ter um modelo de negócios que não leve em conta os impactos ambientais e sociais. Ou quase. Em minha mesa, sempre tenho fotos dos CEOs mais poderosos das empresas fósseis do mundo [sorrisos, ed]. Isso me ajuda a lembrar que, por trás desse modelo que precisa ser desmontado, existem seres humanos, mesmo que seja difícil acreditar nisso”.
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Silvia Zanazzi, cientista-chefe de regeneração da Nativa
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POR QUE AS SOCIEDADES DE BENEFÍCIO CRESCEM MAIS
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Para fins da pesquisa sobre o tecido empresarial nacional, foi escolhida uma amostra de sociedades de benefício para ser comparada com um conjunto de sociedades de não benefício homogêneas por macrossetor e classe de tamanho. O período analisado inclui o quadriênio 2019-2022, e a análise foi possível graças ao cruzamento do banco de dados de registro desenvolvido pela Câmara de Comércio de Taranto e pela Infocamere com aquele disponível para a Intesa Sanpaolo (dados ISID – Intesa Sanpaolo Integrated Database).
“O universo empresarial italiano é composto principalmente por empresas de pequeno e médio porte”, comenta Di Cesare, ”e isso também se reflete no panorama das Sociedades de Benefícios em termos de números. Entre as Sociedades de Benefício, as microempresas representam 1×1000 de todas as empresas italianas. Passando para as pequenas e grandes, estamos falando de 2×1000 e 1,6%, respectivamente. Isso significa que a incidência nas grandes empresas é maior do que nas pequenas e que está ocorrendo uma profunda mudança cultural”.
A pesquisa mostra como o cenário das sociedades de benefícios italianas é caracterizado por dinamismo, internacionalização e crescimento constante. Os dados mostram que, entre 2019 e 2022, as Sociedades de Benefício registraram um aumento no volume de negócios de +37% em termos medianos, mais do que o dobro das empresas sem benefícios (+18%). Atualmente, as Sociedades de Benefício ainda representam um nicho em relação ao número total de empresas italianas (1,23×1000), mas a tendência de crescimento tem se acelerado constantemente desde 2016, ano em que foi introduzida a lei italiana que regulamenta seu status legal.
Fonte: Pesquisa Nacional sobre Sociedades de Benefício 2024
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De acordo com os dados, as Sociedades de Benefício, que se concentram principalmente no norte da Itália, reconhecem mais o valor do capital humano – o custo médio da mão de obra por funcionário é de 41.000 euros contra 38.000 -, redistribuindo assim mais a riqueza entre os trabalhadores. As sociedades de benefício também estão à frente da antiga forma de fazer negócios em termos de níveis de internacionalização, pedidos de patentes (24% contra 13%), marcas registradas internacionalmente (35% contra 19%) e obtenção de certificações ambientais (35% contra 18%).
Entre 2020 e 2021, o número de Sociedades de Benefício dobrou – de 805 em 2020 para 1.697 em 2021 – e seus funcionários aumentaram de 18.000 em 2020 para 98.000 em 2021 (+433%). Nesses anos, muitas empresas começaram a pensar mais sobre seu impacto social e ambiental. De certa forma, a pandemia ajudou um fenômeno pré-existente, embora fora do radar.
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QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS OBJETIVOS DAS SOCIEDADES DE BENEFÍCIO?
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A segunda parte da pesquisa é dedicada a uma análise dos objetivos das Sociedades de Benefício. “Pela primeira vez, também graças ao uso de ferramentas de inteligência artificial aplicadas à análise textual, foi possível analisar os estatutos de todas as Sociedades de Benefício italianas (3.619 no final de 2023) de forma sistemática, identificando os 18.618 objetivos específicos de benefício comum, uma média de 5,8 por empresa”, explica Silvia Zanazzi.
Fonte: Pesquisa Nacional sobre Sociedades de Benefício 2024
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A classificação geral mostra que 32,5% das finalidades estão relacionadas ao capital social, destacando o forte vínculo do tecido empresarial italiano com o território e as comunidades em que operam. Em seguida, vêm os objetivos relacionados à inovação do modelo de negócios (24,4%) e às políticas de gestão do capital humano (17,6%), que afetam a equidade, a organização do trabalho e o bem-estar e o desenvolvimento das pessoas.
Por fim, há aqueles ligados à área de liderança e governança (13,4%) e os relacionados ao impacto ambiental (12,2%), com um percentual relativamente baixo que reflete o fato de as Sociedades de Benefícios pertencerem mais ao setor de serviços, onde os impactos ambientais são principalmente indiretos. Entre as Sociedades de Benefício, cerca de 8 em cada 10 (78,0%) indicaram pelo menos um propósito específico de benefício comum material, em que a materialidade indica o quanto uma determinada questão influencia o desempenho de sustentabilidade da empresa em um setor específico.
“A vocação de uma empresa, para usar uma expressão da Olivetti, pode ser muito diferente da de outras. Pensar em como passar de um modelo extrativista para um regenerativo exige muita redefinição”, conclui o cofundador da Nativa. “O maior obstáculo? A mudança. Mas o que me conforta é que ela está acontecendo, dia após dia.”