*Esta matéria é uma tradução autorizada de um artigo originalmente publicado no Community Soccer Report (CSR) e foi reproduzida aqui com a devida permissão. Todos os direitos sobre o conteúdo original pertencem ao CSR. Acesse aqui a versão original.
Nos últimos anos, a sustentabilidade no futebol e no esporte em geral deu passos significativos, mas ainda há muito espaço para melhorias. Quais são as soluções para preencher essa lacuna? Conversamos com Leonardo Ghiraldini e Luca Guarneri, que através do trabalho com a NATIVA estão tentando orientar a mudança para uma abordagem mais específica e impactante sobre o tema.
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Começamos com uma referência à entrevista de 2021, onde se discutia a real possibilidade de as organizações de futebol (e esportivas em geral) se tornarem B Corp ou Sociedades de Benefício. Na época, afirmava-se que faltava talvez “uma certa conscientização e cultura sobre o assunto, com ferramentas já existentes que só esperavam ser compreendidas e aplicadas”. Três anos depois, como está a situação?
“Desde então, a conscientização sobre temas de sustentabilidade certamente aumentou. Clubes e associações começaram a agir, implementando os primeiros planos de evolução. Em 2021, a UEFA [União das Associações Europeias de Futebol] lançou sua estratégia de sustentabilidade 2030, solicitando que todas as associações afiliadas adotassem um plano específico alinhado ao seu e que introduzissem a figura do Gerente de Sustentabilidade. A FIGC [Federação Italiana de Futebol] apresentou seu plano em 2023, tornando-se a primeira associação esportiva na Itália a lançar uma iniciativa semelhante. Além disso, a Série A tornou obrigatória para cada equipe a nomeação de um Football Social Responsibility Officer, responsável pela promoção, coordenação e implementação do compromisso social do clube.
Além do movimento proativo das associações, que levou os clubes individuais a se adaptarem às novas diretrizes, também vimos casos exemplares de organizações que, acreditando que o esporte e o futebol podem acelerar a mudança, decidiram dar alguns passos a mais, demonstrando uma liderança que pode inspirar o setor. Estamos falando, por exemplo, do Real Betis, do Cagliari, do St. Pauli, do futebol britânico, sempre atento às questões sociais, e do Royale Union Saint-Gilloise, o primeiro time a se tornar uma B Corp.
Portanto, o mundo do futebol, assim como todo o esporte profissional, avançou, mas o conceito de sustentabilidade ainda é novo e precisa ser completamente assimilado e priorizado pela maioria dos clubes. É fundamental que os temas de impacto social e ambiental se tornem parte integrante da cultura do clube, influenciando suas escolhas e planos estratégicos para o futuro. As ferramentas para isso já existem, e os clubes têm uma grande oportunidade de competir e ‘vencer’ também neste campo. Não apenas por si mesmos, mas também por suas comunidades, torcedores e pelo planeta.”
Com a NATIVA, vocês estão tentando acelerar esses temas. No que consiste o envolvimento de vocês no mundo do esporte?
“A NATIVA é uma Regenerative Design Company que apoia centenas de empresas em uma evolução radical dos seus negócios, acelerando a transição para a sustentabilidade e modelos econômicos regenerativos. Acreditamos firmemente no potencial do esporte para gerar impacto positivo nos âmbitos econômico, social e ambiental.
Por isso, apoiamos todos os clubes e associações esportivas para que reconheçam esse potencial e estamos prontos para auxiliá-los em uma mudança cultural através de uma abordagem científica e também humana, que permite medir e melhorar os impactos utilizando ferramentas sólidas reconhecidas internacionalmente (tanto para os clubes quanto para os eventos). Começar pela medição do desempenho em sustentabilidade é fundamental: só assim é possível entender onde e como melhorar, sem agir por tentativa e erro. Uma vez feita essa ‘fotografia’, criamos um plano de melhoria sistêmica e integrada com os valores, a vocação, as diretrizes e os objetivos financeiros e individuais do clube.”
Existem exemplos concretos de como esse compromisso já está se materializando. Dois, em particular: a Maratona de Milão e o Giro d’Italia…
“Iniciamos com a RCS Sport, organizadora do Giro d’Italia e da Maratona de Milão, um processo de melhoria dos seus impactos sociais e ambientais, para apoiá-los em um salto evolutivo em relação às inúmeras iniciativas já implementadas para gerar impacto positivo nas comunidades, no meio ambiente e nas pessoas.
Qual é o valor que os eventos podem criar para todos os envolvidos? Como podemos garantir que o ‘depois’ seja melhor que o ‘antes’? Como podemos tornar essas manifestações um amplificador e um megafone do melhor que o nosso país pode oferecer? Acreditamos que essas são questões fundamentais que devem ser levantadas não apenas pelos organizadores de grandes eventos esportivos, mas por todos os principais atores do mundo econômico, político e institucional.
Para tentar responder a essas perguntas, em novembro de 2023 foi publicado o primeiro Legacy Report do Giro d’Italia e da Maratona de Milão, um documento de mapeamento e melhoria dos impactos econômicos, ambientais e sociais desses eventos, graças a um modelo desenvolvido ao longo dos anos, o Regenerative Event Framework. O resultado é representado no Relatório por meio do Perfil de Regeneração, que considera 5 eixos de impacto relevantes para a sustentabilidade: resiliência climática, circularidade, capital natural, bem-estar (felicidade e saúde), educação e engajamento. Nas próximas semanas será publicado o Legacy Report 2024, que destacará as ações de melhoria implementadas e os compromissos para as próximas edições.
Esses são os primeiros quilômetros de uma longa jornada, que por enquanto pode contar com um sistema de navegação válido. Nosso objetivo é responder aos diferentes desafios do setor esportivo, melhorando as práticas dos eventos e promovendo uma competição cada vez mais sustentável.”
Não apenas grandes eventos, a atenção também está voltada para os clubes. Recentemente vocês entraram no mundo do rugby com o Benetton Treviso: podem nos contar um pouco sobre o trabalho feito diante desta realidade?
“Começamos justamente com o objetivo: iniciar um caminho para incorporar a sustentabilidade como motor de crescimento e inovação, desenvolver competências nesses temas e engajar todo o ecossistema em torno deles. Essa é a visão com a qual o Benetton Rugby, um clube de destaque na Itália e no cenário internacional, iniciou um processo com nosso apoio.
A primeira parte da iniciativa envolveu a medição do desempenho ambiental, econômico e social do clube de acordo com padrões internacionais que levam em consideração múltiplos fatores de impacto, como o ambiental (práticas gerais de gestão ambiental do clube, incluindo circularidade e emissões), o comunitário (desde diversidade e inclusão até a relação com fornecedores e o valor gerado para a comunidade), e o impacto sobre todas as pessoas que trabalham e colaboram com o clube (atenção à qualidade do ambiente de trabalho, à felicidade das pessoas, à valorização e ao crescimento profissional).
A partir dessa medição, exatamente como ensina o esporte, estamos desenvolvendo um plano estratégico orientado à melhoria contínua, que envolverá ativamente o ecossistema da equipe, desde os espectadores até os parceiros e patrocinadores. O campo de atuação da equipe se expande, assim como o campo de jogo, incluindo variáveis e princípios que respeitam a sociedade, o meio ambiente ao nosso redor e as futuras gerações. Só com o esforço de todos será possível vencer os desafios mais difíceis.”
Com base nesse exemplo, tentemos imaginar um caminho semelhante realizado com um clube de futebol. Como vocês estruturariam o trabalho? Quais seriam os elementos mais importantes? Existem aspectos a considerar que são diferentes das outras realidades com as quais vocês já trabalharam?
“O mundo do futebol tem a oportunidade de demonstrar sua liderança ao se tornar um exemplo positivo nessas questões, inspirando milhões de espectadores e outros esportes. A abordagem que adotamos com clubes de futebol é semelhante à utilizada com outras organizações, mas com algumas especificidades, especialmente para os maiores, que devem se conformar a diretrizes europeias como a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD). A CSRD exige que as empresas forneçam informações detalhadas sobre seus impactos ambientais, sociais e de governança, promovendo transparência e responsabilidade. Isso é particularmente relevante para os clubes de futebol, que operam em escala internacional, têm uma estrutura organizacional complexa e muitas vezes funcionam como grandes empresas globais, com uma vasta gama de partes interessadas a considerar. Esse aspecto deve ser cuidadosamente gerido.
Nossa experiência de uma década em lidar com questões de sustentabilidade com empresas internacionais nos ajuda a ver além, especialmente no que diz respeito ao potencial inexplorado dos clubes, que pode ser explorado. Nesse sentido, acreditamos que as diretrizes europeias, quando aplicadas com o método correto, podem se tornar uma oportunidade para fortalecer a estratégia e a evolução das empresas em direção à sustentabilidade. O objetivo é criar uma mudança duradoura e significativa, melhorando a sustentabilidade não apenas dentro dos clubes, mas também em seu vasto ecossistema de stakeholders.”